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quarta-feira, 17 de novembro de 2010


Moncks finaliza:

A RESPEITO DOS VERSOS RIMADOS

Joaquim Moncks

Chega, pelo Orkut, esta peça que merece consideração e breve análise:

“MUITO PRAZER, HOMEM

Orides Siqueira (*)

Claro não é mito nem planificado
Mas não é santo nem santificado
É um standard, um modelo
Feito por Deus com muito zelo

Homem ser pensante
Menino já é homem iniciante
Cresce é com diploma na mão
Inicia-se o mistério em busca da perfeição

Vai à igreja aprende a amar
Pede perdão e sabe perdoar
Mas para que se mude as estruturas
Precisamos primeiro conhecer as criaturas

Vamos devagar até dirigir o dirigível
Não podemos prever o imprevisível
Homem é uma televisão em rede
Mas não vamos mudar apenas apertando no verde

(*) Poeta e escritor. Residente em Arroio Grande, Zona Sul do RS.”

Orides, poetamigo!

Este poema é muito interessante... Em linguagem popular, acessível, discute, filosoficamente, a condição e função do HOMEM no mundo, e as necessárias mudanças que devem ser impressas para que o SER possa fruir felicidade e amor em tempos de consumismo e egoísmos de toda sorte...

Quanto à forma, brigo um pouco com as rimas, que, em Poesia, na contemporaneidade, já estão abolidas nos versos que chegam aos livros didáticos, e que irão imprimir a discussão na cabecinha dos jovens escolares. Desta maneira, fixa-se o gosto estético atual...

E, diga-se de passagem, para que o poema chegue aos livros destinados aos escolares, leva cerca de sessenta anos desde o aparecimento da peça poética...

Não é à toa que, depois dos sessenta anos de circulação, a obra cai em domínio público e o editor não necessitará pagar direitos autorais ao autor e/ou sua família. A lei brasileira reconhece o longo trajeto a ser cumprido até chegar aos receptores.

Há obras poéticas que levam mais de cem anos para se aninhar na alma popular, e, pelo produto, avultam e dão prestígio ao seu autor.

O sucesso para o poeta sempre leva muito mais tempo do que para o músico e suas canções. O livro tem um longo caminho a trilhar, enquanto o som do CD, pela mídia dos meios de comunicação social, na atualidade, espalha-se como o vento...

No entanto, no interior do Brasil, especialmente no Nordeste, o verso rimado ainda tem público cativo, nas feiras públicas e nas vaquejadas, com os “repentistas”; tal como ocorre aqui no RS, nos rodeios, festivais, feiras, carreiras de cancha reta, nos bolichos e nos Centros de Tradição Gaúcha – CTG, via literatura oral promovida pela bonita e intrigante oralidade dos “trovadores” .

A rima, hoje em dia, aplica-se mais à composição regionalista musicada. Veja-se o "sertanejismo", que campeia pelo país com sucesso, mercê do repetitivo dos temas, nos quais imperam, quase sempre, os dramas amorosos e o “lenga-lenga” usual das chegadas e o “ficar” entre os que buscam a parceria amorosa e o rolar na cama. Acresça-se algumas gabolices do caboclo e muito machismo...

Parabenizo-te porque é difícil escrever, em Poesia, sobre este temário com palavras singelas e com o toque da rimação, que, na peça em exame ocorre em rimas emparelhadas, duas a duas em cada estrofe, buscando o ritmo, a necessária melodia dos versos e da peça como um todo.

Ao demais, a boa Poesia, aquela que fica na memória dos povos, sempre tangencia a Filosofia. E aqui está, patente, esse trajeto intelectual e poético. É nesta abordagem que pode emergir, nos versos, a chamada TRANSCENDÊNCIA, característica dificilmente encontrável nos versos da atualidade, principalmente nos redutos internéticos.

O que temos, a partir do século XIX, na Europa e nos EEUU, e no Brasil a partir do séc. XX, depois de séculos de versos obedientes aos padrões clássicos, é o VERSO BRANCO, SEM RIMA, cantilena quase-prosaica que vivifica e remete à linguagem coloquial entre pessoas de todas as classes sociais.

O verso sem rima assemelha-se à linguagem usual cotidiana, e vai depender da erudição de seu criador e da porção de Poesia que ele contém. Em todas Poéticas, tanto no Clássico, como no Contemporâneo, o que vale mesmo é a presença da linguagem em sentido conotativo, na qual o poeta SUGERE, mas não DIZ o que pretende, porém nos emociona pela SUGESTÃO contida nos versos.

Como tu bem podes ver, o poema me pegou de jeito, e seguem, com o meu carinho e apreço, estas linhas oblíquas – correlatas – nascidas de minha condenação ao pensar.

Abraços do poetinha JM.

– Do livro O NOVELO DOS DIAS, 2010.
http://recantodasletras.uol.com.br/cartas/2620850

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